sexta-feira, 19 de junho de 2009

Recursos linguísticos e expansão internacional das empresas


Face à crescente relevância da interdependência entre recursos linguísticos e interculturais e negócios, a Direcção-Geral de Educação e Cultura da Comissão Europeia promoveu, em Dezembro de 2005, um estudo designado por “ELAN – Effects on the European Economy of Shortages of Foreign Language Skills in Entreprise”.Este trabalho foi realizado pelo CILT – The National Center for Languages (Reino Unido) e teve por base um inquérito efectuado a cerca de 2000 PME’s exportadoras de 29 países europeus (União Europeia, EEA e países candidatos) com o objectivo de recolher informações sobre “language skills, intercultural competence, awareness of language strategies, loss of business owing to lack of languega skills, future exporting intentions and hence projected requirements for further language skills”. O “ELAN” constata, fundamentalmente, que se perdeu um número significativo de oportunidades de negócios em resultado directo da escassez de competências linguísticas e interculturais - cerca de 11% (195 PME’s) das empresas inquiridas referiram que perderam contratos pelo referido motivo – e que em 13 dos 29 países analisados cerca de 50% das empresas da amostra indicaram que vão necessitar de alargar o domínio de línguas, a curto prazo, devido ao facto de pretenderem penetrar em novos mercados (sobretudo mercados emergentes).

Para além disto, este estudo conclui ainda que:
- “ It is possible to construct economic models and measure the impact of language skills on business performance.

- From the results gathered in this survey it is possible to conclude that SMEs having a language strategy and using a mix of native speakers, language-skilled employees and specialist translators will have a significantly higher proportion of export business than those which do not use these language management techniques.

- English is important as the world business language, but other languages are used extensively as intermediary languages and businesses are aware of the need for a range of other languages in relationship-building.

- The increased demand for language skills will come from an average of 42% of companies across Europe as a whole. This level of changing demand will not be easily catered for by current national educational provision.
- Smaller SMEs in particular lack the resource to make forward investment in language skills and may therefore be a legitimate and necessary target for intervention measures.

- Investment in the development of language skills across the EU would produce economic benefits, with positive impact on SME productivity and export performance.

- These investments are an essential factor in enabling the EU to compete on the basis of skills and knowledge rather than on the basis of low costs.”

Ainda antes da publicação deste relatório da Comissão Europeia, um trabalho de T. Lautanen (“Modelling small firms' decision to export - Evidence from manufacturing firms in Finland, 1995, Small Business Economics, Vol. 14, No. 2, pp107-124), realizado, no ano 2000, junto de 76 PME’s industriais finlandesas havia concluído que o desenvolvimento das exportações destas empresas foi directamente influenciado pela existência de competências linguísticas e interculturais, sobretudo ao nível dos dirigentes das empresas, e que se os empresários dominassem duas línguas estrangeiras, em vez de uma, a possibilidade de adoptarem uma estratégia de exportação na sua empresa aumentava em cerca de 40% (“English is not enough”).

Mais recentemente, e por iniciativa de Leonard Orban, Comissário romeno responsável pela pasta do Multilinguismo na Comissão Europeia, foi criado o Business Forum on Multilingualism que já apresentou um conjunto de recomendações sobre esta problemática à Comissão Europeia .

Em Outubro de 2008, a Comissão Europeia torna a pronunciar-se sobre este assunto (ver documento ) que vem alertar para a necessidade da utilização estratégica das línguas como factor de competitividade da União Europeia (o objectivo da Cimeira de Barcelona apontava para o domínio da língua-mãe, mais duas línguas). Neste novo relatório são apresentadas um conjunto de recomendações aos Estados-membos em relação a este tema, reforçando-se a orientação de que a melhoria dos recursos linguísticos e interculturais da população da UE poderá contribuir para a sustentabilidade e crescimento das exportações das PME’s europeias, maior integração social (a UE tem actualmente 500 milhões de habitantes, 27 Estados Membros, 3 alfabetos, 23 línguas oficiais e 63 outras línguas fazem parte da herança cultural europeia falando-se em grupos ou regiões especificas), aumento da mobilidade profissional (10 milhões de europeus trabalham em outros Estados-Membros) e até como garantia de empregos melhor remunerados.

E em Portugal que reflexão tem existido sobre este assunto, sobretudo ao nível empresarial? Que consequências têm tido estas debilidades na expansão internacional das empresas nacionais, nomeadamente das pequenas e médias empresas? Que medidas têm sido tomadas para corrigir estes problemas? Numa época de crescente relevância internacional dos chamados mercados emergentes e de aposta na diversificação dos países de exportação e de investimento, estarão as empresas portuguesas habilitadas, com as necessárias competências linguisticas e interculturais, para enfrentarem estes desafios?