segunda-feira, 24 de maio de 2010

Guiné-Bissau: até quando a instabilidade politica e militar?


Visitei duas vezes a Guiné-Bissau, em meados dos anos 90 do século passado, enquanto responsável pelo acompanhamento dos mercados africanos no ICEP, e já nessa altura este país africano de língua oficial portuguesa me pareceu aquele que mais fragilidades apresentava ao nível do seu sistema politico e do seu funcionamento das várias instituições. Para além disso, as carências por que passava a população  e as deficientes infra-estruturas constatam-se logo à chegada  a Bissau. Recordo-me de ter aterrado no pequeno aeroporto de Bissau num voo da TAP, já de madrugada e debaixo de muito calor e humidade, e do amontoado de malas onde cada um dos passageiros tentava, no meio de uma grande confusão, identificar e recolher a sua bagagem, pois não existiam passadeiras rolantes. Do percurso do aeroporto para um dos dois hotéis na altura existentes na cidade (fiquei hospedado na antiga messe dos oficiais portugueses em Bissau, no período antes da Independência) percorri uma das duas estradas iluminadas e alcatroadas da cidade. A outra ligava o palácio do Presidente até ao porto de Bissau. Dos contactos que na altura efectuei com entidades públicas e privadas ligadas às áreas da economia e das empresas e também com algumas das organizações internacionais presentes em Bissau (Delegação da Comissão Europeia e Escritório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), pude constatar, e perceber com alguma profundidade, os problemas que afectavam o país e as dificuldades com que se deparavam os empresários guineenses e as empresas locais com capitais portugueses.
A partir destas viagens fui acompanhando com mais atenção a situação politica e económica da Guiné-Bissau que, infelizmente, não parou de se agravar. Hoje, a  Guiné-Bissau é um dos países mais pobres de África, sendo noticia pelos mais infelizes e tristes acontecimentos (desrespeito pelos direitos humanos, assassinatos de figuras politicas e militares, narcotrafico, corrupção, pobreza, etc...) e que mereceram também  uma atenção especial por parte do júri da edição deste ano do World Press Photo (em exposição no Museu da Electricidade, em Lisboa).
Esta manhã, vi esta noticia sobre a provável demissão do Primeiro-Ministro da Guiné-Bissau, Carlos Gomes Júnior, que se encontra há cerca de um mês fora do país. Em face de todos estes factos, não estará na altura da comunidade internacional se mobilizar de uma forma mais articulada, e agora com um melhor conhecimento da situação,  e tentar encontrar, juntamente com os guineenses, uma solução para um país que teima em adiar a pacificação da sua sociedade e o seu desenvolvimento económico e social?