sexta-feira, 17 de julho de 2009

A transição politica no Gabão

Em meados da década de 90 do século passado, desloquei-me em trabalho a Libreville, capital no Gabão, com o objectivo de fazer um levantamento das oportunidades de negócios para as empresas portuguesas e de contactar as principais instituições locais ligadas às áreas económica e empresarial.
Dessa viagem, e dos contactos que realizei, houve um conjunto de factos que, na altura, me impressionaram bastante. Em primeiro lugar, a forte presença francesa a todos os níveis da sociedade gabonesa, e nomeadamente na área económica. Empresas e interesses franceses, com ligações ao mais alto nível do poder politico, controlavam a economia gabonesa, e nomeadamente as áreas dos petróleos, banca, infra-estruturas, madeiras e distribuição alimentar (numa deslocação a um supermercado tive oportunidade de ver alfaces, tomates, leite do dia e iogurtes franceses que eram enviados diariamente, e por avião, a partir de Paris. Para além disso, era bem visível todo o dispositivo militar francês no país (a França possuía uma base aérea, ao lado do aeroporto internacional de Libreville), como se destacava também a enorme quantidade de assessores franceses que trabalhavam nos vários ministérios que visitei. Em segundo lugar, recordo também o poder absoluto que dispunha o Presidente Omar Bongo neste pequeno país africano com cerca de 1,4 milhões de habitantes (nesta visita, e depois de um encontro na Delegação da Comissão Europeia com um conselheiro económico francês, tive também oportunidade de assistir, junto à magnifica e tranquila marginal de Libreville, a todo o aparato de segurança que rodeava a chegada de Omar Bongo de uma viagem ao estrangeiro ....). Omar Bongo governou de forma autocrática o Gabão durante mais de 40 anos, e foi uma peça fundamental na politica externa africana de França e na intermediação de um conjunto de conflitos regionais, nomeadamente no Congo, República Democrática do Congo e Angola. Agora, e quando se esperava, numa perspectiva minimalista, alguma mudança de protagonistas na vida politica gabonesa, depois da morte de Omar Bongo, o seu filho, Ali-Ben Bongo, prepara-se para ser o candidato do principal partido (PDG) às eleições presidenciais, previstas para o próximo mês de Agosto, e assim suceder ao seu pai. Será que há coisas que nunca mudam?