domingo, 16 de janeiro de 2011

Tunísia: a dependência económica externa e o relacionamento com Portugal


No post anterior, chamámos a atenção para a grande dependência externa da economia tunisina,  nomeadamente do investimento directo estrangeiro e das receitas oriundas do sector do turismo.
Para ilustrar esta situação, preparámos uma sintética análise das relações comerciais e de investimento da Tunísia e também do relacionamento económico deste país com Portugal que teve por base a consulta a diversas fontes nacionais  e estrangeiras (Aicep, UNCTAD, OMT, entre outras):
Ao nível do comércio externo, a União Europeia é o principal parceiro comercial da Tunísia, tendo representado, em 2008, cerca de 72% das exportações e 57% das importações tunisinas. Em termos de países, destacam-se a França e a Itália que foram o destino de cerca de 49% das vendas e a origem de 36% das compras tunisinas ao exterior. A Alemanha e a Espanha ocuparam, respectivamente, a 3ª e 4ª posição no ranking de clientes, mas enquanto fornecedores foram ultrapassados, em 2008, pela Rússia, que ocupa agora o 3º lugar.
Em termos de investimento directo estrangeiro (IDE), foi, em 2008, o 63º receptor mundial de IDE, representando cerca de 0,16% do total de IDE. De acordo com o World Investment Report da UNCTAD, entre 2004 e 2008, a Tunísia recebeu 9,1 mil milhões de USD de IDE (média anual de 1822,4 milhões de USD), estimando-se que o stock total de IDE se situe próximo de 29 mil milhões de USD, correspondendo a 68,6% do PIB em 2008. Dados relativos a 2008, indicam que fluxos de investimento estrangeiro representaram 20,8% do investimento produtivo tunisino, 27,1% da formação bruta de capital fixo, 6,8% do PIB, 54,4% das entradas de capitais exteriores e 20% da criação de emprego. Segundo a FIPA (Agence de Promotion de L’Investissement Exterieur), os países da União Europeia representam cerca de 84% dos fluxos de IDE, com destaque para os investimentos realizados por empresas de França, Itália, Alemanha, Reino Unido, Portugal e Bélgica. Ainda, segundo a FIPA, em finais de 2008, existiam 2.966 empresas de capital totalmente estrangeiro ou misto que empregavam cerca de 303 142 trabalhadores.
Quanto ao sector do turismo, a Tunísia é o 34º destino turístico mundial (0,8% do total mundial de fluxos turísticos) e o 4º destino turístico africano, depois do Egipto, África do Sul e Marrocos (com uma quota de 15%). Em 2008, entraram na Tunísia cerca de 7 milhões de turistas que permitiram que as autoridades tunisinas arrecadassem 2,8 mil milhões de USD de receitas turísticas. Nesse ano, a Europa foi a zona geográfica responsável pela emissão do maior número de turistas para a Tunísia (58% do total em 2008), seguindo-se a região do Magreb (39%).
Ao nível das relações comerciais com Portugal, a Tunísia, foi, em 2009, o 28º cliente de Portugal (0,17% das exportações portuguesas) e o 75º fornecedor (0,04% das importações nacionais). Em 2009, as exportações nacionais atingiram 116,3 milhões de euros e as importações 19,1 milhões de euros,  e, nesse ano, a Tunísia foi, no contexto do Magrebe, o 3º cliente de Portugal, a seguir a Marrocos e à Argélia, e o 5º fornecedor, depois da Líbia, Argélia, Marrocos e Egipto.
Em termos de investimento directo português na Tunísia, e segundo dados do Banco de Portugal, o valor do investimento português neste país, e no período 2004 a 2008, alcançou um valor de 18, 7 milhões de euros. Em termos de stock de IDE, e de acordo com as autoridades tunisinas, Portugal ocupa a 4ª posição no ranking dos investidores no país. Existem cerca de 35 empresas tunisinas com capital português de diversos sectores de actividade, com destaque para as áreas das confecções, cimentos, energia, química e metalúrgica, e merecendo especial destaque os investimentos da cimenteiras nacionais Cimpor e Secil.
A Tunísia é também a actual sede do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) que se mudou para Tunis (antes esta entidade multilateral de financiamento estava sediada em Abidjan, Costa do Marfim), devido ao clima de instabilidade politica e de guerra civil que atravessou (e ainda atravessa) a Costa de Marfim, depois do falecimento, em 1993, do Presidente Félix Houphouët-Boigny (a vida tem destas coisas....será que é desta que a sede do BAD vai para Maputo?).
Em função deste quadro macro-económico, urge uma rápida clarificação politica do país, sob pena da degradação da situação económica poder arrastar a Tunísia para uma situação de caos generalizado com graves implicações internas e regionais.