sábado, 16 de junho de 2012

"La Silenciosa Conquista China" e a diplomacia espanhola


Pablo Cardenal e Heriberto Araújo, são dois jornalistas espanhóis residentes na China e que publicaram recentemente  "La silenciosa conquista china", uma obra que procura explicar, com grande detalhe, o processo de expansão internacional das empresas chinesas. Nesta investigação, os autores realizaram mais de 500 entrevistas em 25 países de África, Ásia e América Latina, sendo este livro já considerado um autêntico "best seller", com 5 traduções em espanhol e estando também a ser traduzido para francês, inglês, polaco e chinês (para o mercado de Taiwan). Trata-se de uma obra de referência em termos internacionais devido à qualidade da análise realizada sobre uma realidade económica e empresarial ainda pouco conhecida e constitui também um livro percursor em Espanha onde não têm surgido, nos últimos tempos, muitos trabalhos de autores espanhóis sobre os mercados asiáticos.

Mas esta obra tem suscitado alguma polémica em Espanha por outros motivos. Na sequência de pedido formulado pelos seus autores para que o livro fosse apresentado na  Embaixada de Espanha em Pequim e/ou na Delegação local do Instituto Cervantes, que integra os Serviços Culturais da referida representação diplomática, o Embaixador espanhol no referido país considerou "pouco apropriada" essa apresentação nos referidos espaços, devido ao facto do livro não estar a ser distribuído na China. Esta decisão provocou grande surpresa nos autores do livro que referem que existe uma razão mais profunda para esta decisão que lhes foi explicada "off the record" pelo Embaixador de Espanha em Pequim e que estará relacionada com o facto da mesma poder pôr em causa os interesses políticos e económicos espanhóis na China. Esta actuação da diplomacia espanhola, que alguns consideram um "veto politico" e uma "verdadeira acção de censura ideológica", já originou vários artigos em jornais espanhóis de referência como o El Pais, El Mundo e ABC, com este último a considerar que "...la diplomacia española ha vuelto a pecar, una vez más, de cagona. Y es lo mejor que se puede decir porque la otra opción que nos queda es mucho más triste: connivencia con el autoritario régimen chino, que censura todo aquello contrario a sus intereses."

No final, e depois de toda esta polémica, o referido livro acabou por ser apresentado no passado dia 07 de Junho na Embaixada do México em Pequim que, pelos vistos, avaliou de forma diferente o pedido formulado pelos jornalistas espanhóis. Também ainda não foi desta que Camacho foi despedido de seleccionador nacional da equipa de futebol chinesa. Mas esta polémica vem chamar a atenção para as questões da "sensibilidade" e das características especificas do relacionamento político, económico e comercial da China com o seus parceiros externos.