Um conjunto de altas chefias militares turcas demitiu-se sem apresentarem quaisquer justificações. Entre os militares que agora abandonam as suas funções contam-se o general Isik Kosaner, chefe do Estado-Maior das Forças Armadas e os Chefes de Estado-Maior do Exército, Marinha e Força Aérea.
Alguns observadores consideram que os motivos destas demissões estão relacionados com as divergências existentes com o Governo em relação à promoção de vários generais detidos e suspeitos de conspiração.
Actualmente, estão presos 42 generais turcos por alegadas conspirações para derrubar o governo do Partido da Justiça e do Desenvolvimento (AKP), liderado por Recep Tayyip Erdogan e no poder desde 2002. As chefias militares agora demissionárias pretendiam que os generais presos pudessem beneficiar de promoções enquanto que o Governo quer que estes passem à situação de reforma.
No entanto, este episódio deve ter uma leitura mais alargada, pois marca uma profunda mudança na vida politica turca e na relação de forças entre os militares e o poder politico. Há uns anos atrás, este descontentamento dos militares teria originado um golpe de Estado. Hoje, esta decisão não trouxe, até à data, quaisquer consequências ao nível da estabilidade da ordem pública e do funcionamento das instituições do país. Aliás, a partida desta “velha guarda militar”, que tem sido a guardiã da laicização do Estado, vai criar condições para um efectivo controlo deste sector por parte do poder civil, e do actual partido do governo, e para uma reforma profunda das forças armadas e do sistema constitucional turco. As consequências serão naturalmente acompanhadas com muita atenção por outros países da região, como o Irão e a Síria, mas também pela União Europeia e pelos EUA (a Turquia é também um país membro da Nato).